Monday, August 13, 2007

AMACORD _ 34 ANOS DEPOIS E AINDA UM FILME BELÍSSIMO





Ano: 1973
Direção e Roteiro : Federico Fellini
Fotografia : Giuseppe Rotunno
Musica : Nino Rota
Dura
ção:
127 min.
Locação:
Rimini e Estudio Cinecittá, Roma, Itália.
Elenco : Pupella Maggio, Armando Brancia e Magali Noel
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1976.
Bodil Festival 1975, Melhor Filme Europeu.

DVD
: Criterion Collection, lançado em 1998.


Federico Fellini deixou o mundo em 1993 e atrás de si um legado cinematográfico de 23 ótimos filmes que realizou entre 1950 e 1980.

Dos filmes que realizou destacam-se “Estrada da Vida” (1954), “As Noites de Cabiria”(1957), “La Dolce Vita”(1960), “Boccacio”(1962), “Oito e Meio”(1963), “Julieta dos Espiritos”(1965), “Satyricon”(1969), “Roma de Fellini”(1972), “Amacord””(1974),”Casanova”(1976), “La Nave Va”(1983) , “Ginger e Fred”(1985) e Entrevista”(1987).

Amacord foi feito no ápice de sua carreira , na graça do ano maravilhoso que foi 1973; e é um dos filmes mais delicados, bem humorados e fantásticos onde a poesia é um registro obrigatório em todo os fotogramas de um filme.

O tema da película é a cotidiano da vida humana e Fellini se tornou notável por produzir películas que tratavam deste tema com soltura, leveza , humor e crítica; questionando nossa condição emocional, sexual e politica.

Amacord é uma palavra do dialeto Emilico-Romano que significa Me Recordo. Neste filme, o diretor retratou suas memórias autobiográficas de um período de sua adolescência através do olhar de um rapaz chamado Totti em Rimini sua viela natal beira mar, no ano de 1930 quando o Facismo de Mussolini começava a dominar a Itália. O filme descreve de forma deslumbrada, mas não exagerada, o relacionamento do rapaz com a viela, seu mundo e personagens que ao longo do filme vão se tornando mais e mais universais.

Esta é a mágia que Fellini sempre empregou em seus filmes e em Amacord consegue de forma sublime; colocando o espectador em situações de contento, admiração e prazer. Fellini como ninguém soube retratar o charme das pessoas.

O ponto inicial da película é o adolescente descobrindo o sexo e sexualizando suas relações. O filme começa com uma cena antológica que mostra numa noite um carro estacionado chacoalhando; dentro dele o rapaz e seus amigos se masturbando. Amacord nos coloca numa trama simples do cotidiano da vila durante um ano e vai nos revelando a vida e os eventos de seus personagens como o padre severo, a louca da praia, o louco da cidade, as irmãs solteironas, a prostituta, o principe aristrocata, o comerciante, a mulher mais bonita da cidade , a comerciante gorda e outros que a câmera sempre mostra com distânciamento e delicadeza e que dão fluência peculiar filme. Há um personagem numa bicicleta que eventualmente e sempre ao fundo, quando surge, para diante da camara e começa a falar como se fosse com alguém que estivesse atrás da câmera, o espectador, e fala sobre o tempo ou sobre uma qualidade da vila Cria-se um clima surreal confortável.

A fotografia nesta película com movimentos sutis e lentos; e seu distanciamento provocam a sensação onírica no filme. Amacord é um filme que conduz o espectador num embalo do começo ao fim. A musica circense de Nino Rota é elemento fundamental.

Cenas como a do silêncio total em torno de um pavão na borda de uma fonte congelada abrindo a sua cauda e das pequenas barcas a noite em alto mar levando os moradores da viela excitados esperando pela passagem de um Transatlântico, apenas para acená-lo são impossíveis de se esquecer depois de assistir este filme.

Fellini foi um dos grandes da sua geração e talvez um dos últimos poetas cinematográficos destes tempos racionais que vivemos.

A sorte, no entanto, está ai em DVD; pode-se ainda ver Amacord e outras pérolas de Fellini e sonhar, sonhar ao som de uma sanfona numa canção de Nino Rota.

Monday, August 6, 2007

AOS MESTRES, COM CARINHO.

Na semana passada morreram dois grandes cineastas. O italiano Michelangelo Antonioni aos 95 e o sueco Ingmar Bergman aos 89 anos. Os dois são considerados mestres pela crítica, foram contemporâneos e suas obras existiram e fluoresceram nos anos 50 e 60. Meu contato com estes cineastas se deu no fim dos anos 70. Época em que devorava cinema numa São Paulo recheada de cine clubes, ciclos de cinema em universidades, museus e salas que reprisavam clássicos.

Para homenagea-los vou falar sobre um filme de cada.

BLOW-UP

Michelangelo Antonioni

Ano : 1966 Locação : Londres

Atores : Vanessa Redgrave, Sarah Miles, David Hammings, John Castle e Jane Birkin.

Blow-Up é um filme que trata do envolvimento de um fotógrafo com um crime a partir de uma foto que faz de um casal de namorados num parque. A partir deste instante ele se vê envolvido numa série de fatos que o faz ficar obssecado em desvendar um mistério que identifica no fundo da foto durante sua ampliação.

Blow-Up, significa no processo de revelação da fotografia convencional o momento em que a imagem começa a surgir na folha de papel fotografico. Em várias cenas do filme este momento se torna importante quando cada vez mais o fotógrafo amplia a foto para poder observar melhor o que registrou no segundo plano da fotografia e assim encontrar peças para completar o imenso quebra-cabeça que se formou e o envolve.

É um filme intrigante tanto na história que conta como na forma que exibe com estética extremamente moderna e atada ao momento e local em que foi rodado; a Londres de 1966 imersa na contracultura. No entanto, a visão de Antonioni não é panfletária, mas sim intelectual e adulta, vendo o que se passava numa época em que a liberdade era ordem do dia. Antonioni nos conduz com leveza e hermetismo ao mesmo tempo, como na cena em que duas pessoas jogam tennis sem bola.

Há também bastante sensualidade e certa ironia na inconclusão de afeto e desejo que o filme retrata colocando-nos em contato com um vazio existencial.

Trata-se do primeiro filme que Antonioni fez em lingua inglesa e arrebatou com ele o Leão de Ouro no Festival de Cannes de 1966 como o melhor filme.

Tendo a beleza de Vanessa Redgrave e Jane Birkin, Blow-Up é um marco na história do cinema e influenciou várias produções seguintes e influencia até hoje.

O SÉTIMO SELO

Ingmar Bergman

Ano: 1956 Locação : Suécia
Elenco : Max Von Sydon, Gunnar Björnstrand e Bibi Andersson

Sétimo Selo é um dos filmes mais marcantes de Bergman e da história do cinema. Feito em preto e branco, a película celebra a realeza e a beleza deste tipo de fotografia rodado numa floresta sueca em ambientes noturnos e semi noturnos. Contando a história de um cavaleiro voltando das cruzadas com seus agregados e que encontra numa parada a Morte, personificada em um homem, que veio buscar a todos. O Cavaleiro propõe a Morte um desafio para que sejam poupados. Uma partida de xadrez que é jogada sempre no fim do dia entre eles.

A partir deste encontro o filme se desenrola e enfoca dentro de um cenário trágico do país abatido pela peste negra, pelo fanatismo religioso com queima de bruxas questões filosóficas sobre a existência de Deus e o sentido da vida.

É um clássico do cinema.

Muitas cenas deste filme são antológicas, como a cena final onde se vê no horizonte em contra luz a morte caminhando e atrás dela a seguindo o cavaleiro e seus servos.

Bergman oriundo do Teatro criou este filme a partir de uma peça que escreveu, montou e dirigiu. Manteve praticamente o mesmo elenco e criou no cinema a sua linguagem intimista e expressionista, onde a camera se fixa nas expressões dos atores tomando a tela. A fotografia carregada em contraste e ao mesmo tempo límpida dá as nuâncias do trágico e do belo de forma sublime.

Os diálogos são inteligentes e sutis. Através dos diálogos entre o Cavaleiro e a Morte as duvidas, os medos, as injustiças, a incredulidade e a credulidade humana são colocadas.

Bergman já tem o mérito de ter revelado ao mundo talentos como o de Max Von Sydon, a beleza de Bibi Anderson e Liv Ulman. Mas muito além disto está o seu gênio capaz de trazer as angústias humanas à tela através de histórias interessantes e com linguagem cinematográfica original. É o que pode ser visto neste clássico que é o Sétimo Selo.